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terça-feira, 11 de maio de 2010

WALTER FIRMO, UM MESTRE DA FOTOGRAFIA BRASILEIRA

14 de maio a 13 de junho de 2010
A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura inaugura na sexta-feira, 14 de maio (um dia após a abertura do evento Maior que a Vida), às 19h, na Galeria dos Arcos da Usina do Gasômetro, a exposição Sem Nomes, do fotógrafo brasileiro Walter Firmo. No dia da abertura da exposição também será lançado o livro Brasil – Imagens da Terra e do Povo, com 260 fotos de Firmo, selecionadas por Emanoel Araújo.

Walter Firmo é uma lenda viva da fotografia brasileira. Carioca de Irajá, 72 anos, com cinco décadas de ação profissional, Firmo finalmente ganha sua primeira exposição em Porto Alegre. Trata-se de uma grande retrospectiva, com 77 imagens pertencentes ao acervo do Museu Afro-Brasil, de São Paulo. As fotografias traçam um painel extenso, que vai desde o cotidiano de negros anônimos, retratos de celebridades como Pixinguinha, Ataulfo Alves, Madame Satã, Pelé, Grande Otelo e Clementina de Jesus, festas populares, fotos de família, entre outras.

Firmo pegou pela primeira vez numa máquina fotográfica aos 8 anos de idade, a pedido do pai, que queria que ele o fotografasse com a mãe, durante um passeio em Recife, e avisou: Não se esqueça de registrar as jangadas ao fundo e não corte as cabeças e os pés. Foi também o pai que lhe disse, numa madrugada, que a fotografia valia mais que mil palavras:

— Acordei com meu pai me dizendo a frase que nunca mais me saiu da cabeça. Quando eu completei 16 anos, vi José Medeiros na revista O Cruzeiro e queria ser ele na aventura jornalística, no ir e vir em que tudo é novidade, fantasia e dinamismo. Foi especialmente o trabalho dele e do Jean Manzon que fez minha cabeça para mergulhar no cenário da fotografia em que me encontro até hoje.


Após a estréia como aprendiz em 1956, na Última Hora usando uma Rolleyflex presenteada pelo pai, Firmo foi para o Jornal do Brasil, que em 1960 passava pela reformulação gráfica implementada por Odylo Costa, filho e Alberto Dines:

— A ida para o JB foi fundamental para a minha vida profissional, pelas mudanças por que ele estava passando e porque lá eu pude executar minhas idéias e testar novos equipamentos, como as câmeras Leica e Nikon. Outro grande privilégio da minha carreira foi ser o primeiro repórter-fotográfico convidado para trabalhar na revista Realidade, em São Paulo.

Firmo estará presente ao coquetel de abertura da exposição, na sexta-feira, 14 de maio, às 19h. A partir de 15 de maio a exposição Sem Nomes pode ser visitada no horário das 9h às 21h, de terças a domingos, até o dia 13 de junho.

Abaixo, texto especialmente escrito por Walter Firmo para o material de divulgação de sua primeira exposição em Porto Alegre:

NA BASE DO PRETO-E-BRANCO
TODA COR SE MANIFESTA

Esta exposição fotográfica, cunhada nas esquinas deste país, foi construída como num jogo de tênis, ponto por ponto. Nos anos que perambulei nas redações de jornais e revistas tive a sorte e o prazer de encontrar alguns mitos na população mais humilde e a enaltecia. E nos sucessivos anos angariei uma galeria de troféus que engrandeceram meu ego de criador pousado entre a ficção e realidade.

Fiz de tudo. Desde a constatação da simples notícia fotografando um buraco na rua, quanto o espanto de uma blitz, até dormir madrugadas sobre papéis da unidade gráfica do jornal Última Hora, matutino onde comecei a carreira foto-jornalística em 1957, aguardando o plantão da redação me chamar, provavelmente para disparar um flash sobre um homem atropelado e morto na rua, um incêndio, ou um entrevero de bêbados na delegacia.

Esta exposição sem nome talvez ateste que seja uma retrospectiva, mas não é. Ela é apenas parte de um enorme corpo que compõe hoje a jornada Walter Firmo, quando, fazendo de tudo, decapito-me, mostrando parte visível de um trabalho ornado nos retratos e algumas decantações poéticas quando livremente pratico o que mais gosto: viajar na geografia humana. E, se fotografei Garrincha, Pelé, Ademir, Sabará, Gerson, Tostão e outros, nem todos estarão aqui; E se desfilei nos reinos das misses saboreando belos flagrantes documentais, elas também não estarão no universo dos arcos deste gasômetro.

Esta mostra teve a curadoria do renomado escultor Emanoel Araújo, artista consagrado internacionalmente e que hoje, em meio a tantos afazeres, sublima a direção do Museu Afro-Brasileiro em São Paulo. Esta é sua terceira edição. A primeira, durante o lançamento do livro Retratos da Terra e do Povo. A segunda, em Salvador, e agora aqui, em Porto Alegre. Na capital de São Paulo ela fez parte das comemorações do dia 20 de novembro, data consagrada à consciência negra.

O negro faz parte de mim e quando tive essa consciência fiz do meu instrumento de trabalho – a oratória do silêncio – um palanque voltado ao vislumbre em mostrar essa sociedade até então invisível, num patamar onde sua existência poética se alinhavasse ao seu trabalho, dança, religiosidade. Uma filosofia visual que transbordasse malemolência, alegria, tolerância, compreensão, aliada a uma dignidade onde a vida vale a pena ser vivida e mostrada.

Este mulatinho do Irajá, subúrbio da Central do Brasil, na excelência da sua negritude cria esse manifesto de honradez civil. Quem sabe caberia titular esta exposição de Sem Nomes, dada a confraria étnica que se debruça nestas paredes sem memória, em sua maioria cidadãos desconhecidos eleitos por mim no ventre do povo, escolhidos numa eleição onde todos são candidatos e que, atores de sua lira diária nas ruas desse Brasil, estarão assim descobertos na sofisticação do simples.

Esta apresentação é uma declaração fotográfica de se retratar o outro em sua expressividade: eu, meus pais, filhos, netos, avós, amigos, enfim, toda uma gama social exercida nesta arte imediata e reprodutiva. O retrato, desde o invento da fotografia, palmilhou a denúncia, reconhecendo verdades e desmontando mentiras.

Sem Nomes é, sobretudo, uma declaração de amor e o afeto que se encerra.


Walter Firmo, maio de 2010

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